Sexta-feira

Ao fim de vários minutos percebo que a força do hábito me levou a colocar os auriculares nos ouvidos apesar de não estar a ouvir música. Hábito manhoso necessário no trabalho, mas que o silêncio sagrado da biblioteca de São Lázaro não exige. É sexta, mas troquei o escritório por este local porque é dia (na verdade, é o fim-de-semana todo) de me dedicar à formação académica.
O que é uma tortura por um lado, por outro parece-me um bálsamo para a alma – o sossego e a calma, o respeito pelo espaço do outro, a concentração de quem se dedica aos seus ofícios.
Apesar de muitos “ses” e dúvidas concentro-me nos cruzamentos que tenho à minha frente e tomo decisões.

Sabendo hoje que há algo de que tenho a certeza.
Mesmo nos momentos em que tenho dúvidas e receios. Esses momentos servem apenas como avisos, que me fazem entender como o Amor pode ser frágil e o posso estragar se não me sentir abençoada a cada momento.
E nos outros momentos, naqueles em que sorrio mesmo estando sozinha ou quando fico com as pernas a tremer, agradeço a cada precioso evento que me conduziu aqui.

Divago em sonhos que me aguardam, lá muito no futuro.
E faço o exercício penoso de andar para trás. Se quero chegar ali, tenho de passar acolá, por isso tenho de me concentrar (dedicar, trabalhar, esforçar, etc…) aqui. E agora.

Por isso escrevo para limpar o sistema e orientar a cabeça.
Guardo no coração a companhia do almoço, que será a companhia do jantar. Mas entre uma refeição e outra, tenho aquela coisa chata para fazer. Vá, a ver se despacho isto. Se calhar é melhor escolher uma playlist. O silêncio dá-me espaço para sonhar… e eu preciso mesmo dos pés na terra.

Tom Walker – “Just You and I”
https://www.youtube.com/watch?v=fS0SyW980YI

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