Cântaros de chuva e amor

Só sei falar de coração. “Coração é piegas, careta; coração tá fora de moda”*.
Prognóstico concluído.

Nessa casa em que construo história e conquisto espaços, por onde espalho memórias e cheiros e risos, fico só pela primeira vez. Abro janelas e puxo cortinas, dou-lhe ar para respirar e vejo um céu cinza longe mas a caminho que conscientemente ignoro. Isso impede a tempestade? A precipitação urgente da chuva?

(Não, mas isso todos sabemos.)

Corro pela casa divisão a divisão a fechar janelas e portas e portadas, e encosto a mão ao vidro que gela da chuva e vibra do vento. E ouço as descobertas do meu corpo, sem querer saber dos seus significados secretos ou do efeito do bater de asas das borboletas que me enchem o âmago. Experimento esse estado de tempo estagnado, parado, imutável. Isso impede o resto do mundo de prosseguir? De viver e sobreviver?

(Não, mas isso todos sabemos.)

O relógio revira os olhos e tic-tac tic-tac. Não sei à quanto tempo partiu ou quando voltará, mas esta dependência não me traz ansiedade (já não; por enquanto não). O meu coração tem morada fixa no meu peito, mas prefere viver na casa de férias que existe nele, que foi concebida e criada para o/me albergar. Os olhos dele dão-me garantias vitalícias e solto um riso que o faz sempre perguntar “O que foi?” sabendo que me faz feliz.
Deixo de ouvir e ver os pássaros que pousam no jardim. Estarão escondidos nas árvores? Será que também me espreitam ou procuram? Será que se querem abrigar aqui comigo?

(Será que alguém sabe?)

* A Banda Mais Bonita da Cidade – Potinhos

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