Livros que sussurram memórias…

Recostada na cama, lendo o encanto de Jacinto pela Serra, pela Natureza, fecho os olhos e transporto-me para o meu sítio favorito. E nessa contemplação recorro a uma memória particular. Estamos sentados nos pedregulhos do lado sul do rio, aquecidos pelo sol forte que brilha e enregelados pela água fria que nos molha os pés descalços. Reflicto sobre esta memória: tu não estás sentado, estás deitado. Estás sobre o meu colo, estás repousado sobre mim. E dormes. Um sono leve, um sono breve. E há todo um encanto, toda uma paz, toda uma harmonia… Estamos tão bem, em tamanho silêncio e sintonia.
Fecho o livro sobre o colo e rebenta o açude que há em mim. O meu rosto é água que corre livre, por fim tão livre!… E essa água leva pela frente tudo quanto encontra esvaziando-me com brutalidade e dureza. Perco o ar por instantes…
E quando passa o pior… enxugo o melhor que consigo. Calço umas meias mais grossas nos pés gelados. Puxo as cobertas da cama até ao pescoço. E volto à Serra com o Jacinto e o Zé Fernandes. E sereno, nesse passeio, enquanto o corpo entra no torpor do sono…

“A Cidade e as Serras”, de Eça de Queirós

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