Agitação

Procurar abrigo naquele espaço nosso. É disto que se trata. De não ser carne nem peixe, e precisar de ser algo. Precisar de ter posse sobre. E de controlar o tempo, ou poder tirar horas infinitas num vácuo qualquer, sem prejuízo para ninguém, com permissão para estar a não fazer nada. Permitir! Corrijo, afinal é disto que se trata. De permitir ter necessidades próprias, de precisar de segurança e ajuda, disso ser uma aprendizagem difícil e estranha e libertadora. E desesperante. Crescer, é disto que se trata. De como é bom e maravilhoso, e de como não é bom nem maravilhoso. Bolas, voltei ao estado indefinido. Recomeça, Vera, abandona o meio. Decide-te, faz uma escolha, fixa uma posição. É disto que se trata, este medo de escolher errado. Este esperar até à última. Da pressão e do coração apertado, acelerado, acabrunhado. Talvez seja da idade, que disto se trata. Dos sinais do corpo para abrandar e cuidar e destressar. Das dores, das tensões, dos bloqueios, das irregularidades, do sistema nervoso e do sistema imunitário. Da imprevisibilidade da meteorologia.

De saudades do que ainda não aconteceu. De querer pular a fase do ‘a acontecer’ para o ‘feito’. Afinal é disto que se trata – de que já devo horas à cama. Mas a agitação não me deixa parar, não me deixa acalmar. Respira, Vera, copo meio cheio. ‘Eu estou bem, e o mundo também.’

Ou há-de ficar.

É só uma pequena agitação.

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